sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Eu nublado (parte 1)

Certa noite me encontrei no teu canto. Certa era essa noite da qual eu criei em minha mente, sozinha, sonhando igual conto de fadas, antes da sua chegada. Desligue a luz do quarto, ou deixa que eu desligo, não irá empatar meu apetite. Essa luz baixa iluminando as nossas curvas me deixa excitada. O brown apagado no cinzeiro me trouxe sorte, que pode ter nome de menina. Teu nome. Suinga sem som, aumenta o tom ou controla, para que ninguém possa atrapalhar o nosso prazer. Me achava malandra demais para estar acompanhada, achava que em bares encontraria a calma... Tudo por conta da quinta cerveja na mesa que me fez esquecer como a paz caminha com destreza e não em meio ao desastre das almas vazias que parecem não se importar. Deixe que lhe falte ar, mas solte suspiros se eu souber guiar seus prazeres. Me olha bem fundo nos olhos, onde, a maioria não enxerga nada ou tem medo de ver. Sem dúvida, o brilho do teu olho que sorri junto contigo me causa muito mais prazer em ego do que quando vejo-te lacrimejar. É dia seguinte, acordo cedo, abro a janela pra ver se é necessário aterrizar. Dou de cara com a chuva. Volto meu olho para ti, queria te colocar dentro de mim, pra não ter que ir todas as manhãs, cedinho, antes que você acorde de verdade. Saio resplandescente que nem Sol, sinto que eu sou, que 'cê me colocou no meu lugar. É estranho dizer que eu sei navegar mesmo me apelidando de "Pirata", tô mais pra um ser perdido no mar que se acalmou numa ilha e nela quer morar, quer dominar, quer ser dona, quer cuidar. Queria saber amar. Queria assumir que sei. Quero dizer que aprendi com você, e de todas as ilhas que ancorei, esta é a única que eu quero ficar (mesmo que às vezes faça frio).

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Num sobe desce

Vida travestida de montanha russa,
Às vezes me assusta
Parece que tenho medo de altura
Senti tontura
Senti tortura ao ver suas costas
Falarem por você
Por mim
Segurando o copo na mão
Acendendo um cigarro com tremelique
Em vão...
No vagão,
Há coisas que parecem ser,
Mas não são.
Só.
Eles são platéias para o teu show
E eu me viro atrás das cortinas
Agarro minha dor fina
Me entupo de morfina
Pra ver se passa
Mas hoje o dia acordou com uma dor cinza e fraca
Hoje a montanha russa não teve graça
Senti meu peito tombar
Desisti do último trago.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

O que me é real e vivo, eu vivo

"Eu tive um sonho, numa terra distante, com paredes que eu construía, no meu sonho era assim que eu via"
Dizer que eu mato um leão por dia seria uma mentira. Na verdade, eu mato mais que um, todos os dias, às vezes, mais de um por hora. Mas hoje, apesar dessas matanças, sinto que a paz me abraçou lá dentro, além do físico. Me senti mais forte, não dura e fria como uma rocha, mas resplandescente como uma primavera. Surpreendentemente, digo,  foi preciso um pequeno sermão de quem vem dos becos e vielas para a senhorita socialite. "Muié, cê não sabe porquê eu tô aqui, ó!", pronto. Matei. A fera curvou sua cabeça, deu meia-volta e sumiu, não se gabou do seu diploma na minha frente: quem luta de uma forma que ela talvez não tenha conhecido. Por aí, tive aula prática sobre o respeitar que você não conhece. Sinceramente, vejo que minha vida de caminhar por aí até acertar têm me feito fluente da alegria, dona da minha vida e conhecedora de muitas histórias das quais me enriquecem, pois eu tenho meus ouvidos atentos ao mundo e não costumo me limitar à um sofá espaçoso e caro com uma TV "majestosa" à minha frente nem aos meus filhos calados com seus celulares na mão. Eu sou do amor, mulher... Eu dou valor ao que tem real valor. Nossa senhora, rego tais por aí, sentindo as mais nítidas emoções que faltam-me à quem contar. Por fim, me sinto riquíssima, pois aos poucos vejo o mundo meu, não vejo papéis com valores capitais, que voam na primeira ventania e logo se vê as mãos vazias. A minha paz é poder sentir o vento passando pelo rosto, isso sim. Não consigo me render a esse mundo que me é imposto, ainda assim querem me cobrar imposto.

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Nua. Crua.


O mundo pode tirar de você
Alguém que lhe ensinou a viver.

Essa é a minha maior e mais dolorosa certeza.

Vejo o quanto seres humanos são cruéis, também...
Vejo algumas tristezas que vem e vem, não se vão.

Olho pro lado, logo vejo um irmão pedindo um trocado
Na minha frente vejo corpos ao chão,
Adormecidos, esquecidos como um cão...
Sem dono.

Na favela matam vários negros,
Nas metrópoles morremos lentamente porque viemos do gueto,
Sem saber, já nascemos réus.
Mas o tempo é quem comando cada passo que dou,
Nunca me esqueci de onde eu vim, muito menos o que sou,
Onde é que agora estou?

Acordo todo dia de manhã,
Sempre fico à pensar,
Cumprir meus compromissos é sempre uma missão,
À começar pelo ônibus que todo dia é lotadão.

Na calma de um monge eu sigo em cima dessa trilha que o mundo me propõe
Nessa noite escura
Nesses versos que componho
Sabendo que mais uma vez me recomponho pelo que sonho.

Privilégio mesmo é nascer em berço de ouro, o resto é plágio.

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Há dias em que a gente acorda sentindo o ambiente vazio
"você não é daqui não, né?"
pois eu trazia os vícios da grande cidade
"não, sou de Brasília"
e tudo ficou explicado

Lugar tão habitado
mas mesmo assim tenho dificuldade de encontrar loucura parecida com a minha
na esquina de cada uma dessas ruas
humanos parecem querer se complementar

E eu penso
falo comigo mesmo
apenas

Quer algo melhor do que os goles de saliva?
Pros solitários, só um copo de vinho quente
tomo goles de vida solta.

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Sagaz, cidade.

Conheço essa cidade como meus pensamentos
até comparo as ruas: percorri curvas semelhantes em alguns corpos
Passei pra registrar uns fatos
acabei fazendo parte da maioria deles.

Essa parte da história eu conheço bem!

É, amigo...
não fujo da arraia, não.
Nunca fui de traçar passo em vão,
gosto de escrever em verso tudo o que eu não previ, pra vê se vejo o que há
mas não prevejo nada...
É por isso que a maioria não mergulha nu dentro de mim.

Encosto a cabeça na cadeira do busão e olho pra cima
esse céu azul meio cinza estático me traz calmaria
Há outras coisas que causam a mesma sensação de paz
Mas às vezes eu preciso só do meu espaço
Tanto egoísta como sagaz...

domingo, 4 de outubro de 2015

Longitude

Nada do que já fizemos poderá ser desfeito de fato
Não me submeti ao que a maioria aprova, isso já significa meu mundo estável
Mostrando a alma sem máscara mas o espírito envolto de escudo
Malandro é quem respeita o espaço!

É bom saber que o mundo é grande
mas mesmo assim dói saber que SP tá tão longe
A agitação da minha mente é semelhante a Rua Augusta, da qual eu desconheço
Permaneço distante
Nesse instante rezo pra que eu não me esqueça um segundo
Solitude nata
procuro o que não me prenda
fico onde me cabe melhor

Mais um dia de missão cumprida
é agora que volto pra casa
Não estou muito cansada para me despedir agora
Mas o cedo tornou-se tarde pr'eu me ajeitar sem que o tempo pare
Finjo que tenho pressa.

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Cachos (pequenos relatos)

Nem um dia tumultuoso tiraria  tuas reações do meu pensamento. No escuro, o teu olho brilhava e quando o sol nasceu, era teu sorriso, seus cachos e o tom de sua pele que reluzia diante da minha visão cerrada. Até no teu colo eu me aconcheguei, do teu lado as minhas horas voavam me trazendo de volta à realidade. Às duas e meia da tarde eu me fui dali permanecendo em outra dimensão que eu experimentei poucas vezes. "Essa menina parece um girassol" que não vive em qualquer solo e está sempre de frente pro Sol. É isso que me ganha. Quem dera a mim te ver brilhar toda a vez em que que o Sol chega na minha face. Eu gosto da forma como a gente se olha, se aperta, se sente. Minha mão passeia pelo seu corpo e é agora que o mundo ao redor de nós para e não importa tanto quanto o prazer de estar ali. Teu beijo funciona melhor que morfina, menina. Eu me deito ao teu lado ciente de algo que eu não sei descrever e que está prestes a acontecer, na verdade, nessa hora eu só sinto. Não há muito o que escrever porque ali eu só senti e dessa vez eu não soube decifrar, mas permaneço extasiado e ao mesmo tempo calmo, como teu sorriso no início do dia me deixou.

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Serena saudade plena

Enquanto eu observo a vida e ela me observa,
aqui, amor não tem de sobra.
As noites sem Lua costumam ser não muito aconchegantes.
Mas eu ainda quero ser poeta, mãe! E eu serei.
Ainda vou viajar o mundo, seguir mergulhando fundo,
em cada alma, em cada mar.
Hoje eu me lembro da vida precoce-antiga.
Do que me importa, do que esqueci e do que quero de volta.
O tempo não volta, lancei flores por aí, colhi pomares.
Quero meus passos serenos pra alcançar o que almejo.
Dar valor a cada sorriso que vejo e causo.
O que será, será... O que será?
O que é que vale?
Tantas horas jogadas no lixo,
esforços soprados ao vento,
colhendo e deixando morrer,
algo precisa mudar.
Mas hoje, só quero que o tempo não passe,
que algum corpo me aperte e ofereça um bom abraço.
Quando a vida corre demais,
quando você sente que lhe falta tempo,
começa a ver o que concretamente tem valor e,
consequentemente, costuma perceber aquilo que é supérfluo.
E são tantas as coisas aparentes e superficiais...
Não devo ser profunda pra mergulhar em algo tão raso demais...
Só sigo viajante, de codinome Pirata, e não é atoa.
Navego em todos os lugares até encontrar melhores mares,
me afastar dos males e concentrar-me em mim mesma.
Meus pés estão no chão, no ato.
No fim das contas, só quero mais liberdade.
Nada de arrumar as malas e sair de casa,
nem mesmo quero abrir mão do aconchego do abraço apertado de minha mãe depois de um dia cansativo.
Hoje, especialmente hoje, eu quis chorar.
Não sei ao certo se seriam lágrimas de alívio,
por ver o tempo passar,
ou por simplesmente saber quanto tempo ainda me resta para criar.
Hoje senti saudade até da nega que mora longe,
da prima-irmã que mora no meu prédio e quase não a vejo,
da irmã melhor confidente que em Minas Gerais está, com meus dois sobrinhos.
A vida vai passando, saudade dentro de mim ela tece.
Hoje eu parei para pensar.
É que eu sou assim.
É um mundo que gira dentro de mim.

quinta-feira, 2 de julho de 2015

Lá do alto

Quem é que vive pra me provar que eu não posso trocar o dia pela noite? Quem é que vai dizer que eu não posso seguir 1.500 km sem volta? Inexistente. De existente, só a minha crise. Nossa, eu me esqueci! Quem manda é o tempo, eu já fui diferente um dia e talvez um pouco melhor. Não levo jeito e não me sujeito a carregar problemas nas costas para resolver na próxima esquina, costumo dizer que isso é uma vantagem de quem sente pressa, porque ela está ali o tempo inteiro, inclusive quando necessária. Me sinto bicho preso de alma solta, animal selvagem fora do habitat, não considero nada disso relevante. Não querer nada no plano atual é loucura. Querer mudar é natural, e aí sim mudar a rota, a casa, o coração, a cabeça, os vícios. O pensamento movimentando-se mais que as próprias pernas, braços, mãos, tudo junto. Provo que o sentimento atual fará de mim um ser imprevisível. Se seus sonhos  sussurrarem, fique atento. Se gritarem, corra para salvá-los. Às vezes me sinto melhor em silêncio, é quando eu me escuto mais e dou ouvido aos meus anjos e demônios antes que escondam-se novamente. Conquistar a confiança do próprio ego é um jogo eterno. As coisas transformam-se de formas imprevistas que eu não consigo acompanhar quando não são feitas por mim. Aqui dentro, tudo acontece ao mesmo tempo, mas meus gestos não deixam isso claro, não é isso que vê em minha feição. Eu penso em me importar, mas em seguida esqueço. Me lembro novamente só mais tarde, quando ninguém mais liga. Só enxergam aquilo que querem ver, olhando pro lado que querem, atravessando as ruas da vida sem ao menos certificar-se que agora é seguro. Isso pode lhe matar. Pra ser eu, basta se sentir avulsa. "Deve ser assim todo dia, mas só quando tô ruim vejo isso". O silêncio da madrugada pode ser perturbador, mas e se ele trouxer calma, quem vai sair correndo? Nem vento existe agora, mas tem ser humano querendo inventar um novo jeito pra se aconchegar. Sinto-me prestes a voar, não para fugir, mas para aprender o que é a vida, olhando-a lá de cima, do ponto mais sincero de tudo.